sábado, 3 de janeiro de 2009

DISCUTINDO GOSTOS, SEM CERIMÔNIA!

Dizem por aí que gosto nunca se discute. Que cada um tem o seu e ponto final. Que ninguém é obrigado a concordar com o estilo musical, de roupas, de leitura, de amizades, de corte de cabelo, preferências por cores ou qualquer outro traço da personalidade de outrem, mas que precisa saber respeitar a diversidade e coisa e tal.

Todo mundo já ouviu alguém falar sobre essas coisas pelo menos uma vez na vida, não é mesmo?

Mas será realmente preciso evitar a discussão acerca do gosto das pessoas apenas para respeitar essa tão propalada diversidade? Será mesmo que nunca valeria a pena colocar em discussão um tema tão interessante, mas constantemente bombardeado por essa máxima vazia e, de certa forma, pedante, que prega a idéia de que “gosto é que nem consciência, cada um tem a sua”?

Eu não concordo. Penso, ao contrário, que valeria muito a pena sim meter o bedelho no gosto dos outros. E por dois motivos básicos...

Primeiro porque adotar essa máxima implica acreditar que toda produção da indústria cultural teria alguma qualidade pelo simples fato de sempre haver alguém disposto a consumi-la. Isso até faz sentido, já que os mercados culturais, de fato, só podem aquecer a produtividade quando conseguem manter um público-consumidor ativo e – em alguns casos, por incrível que pareça - satisfeito. O que não dá pra aceitar é que esse consumo seja feito de maneira gratuita, sem imposições.

É natural que os nossos gostos sejam influenciados pelo estilo de vida de outras pessoas, que podem fazer parte (ou não) do nosso convívio, ou inclinados para aquilo que está em voga “nas paradas de sucesso”. Quando queremos ouvir esse tipo de música e não aquele; ou quando preferimos usar esse estilo de roupas e ignorar aquele outro, por exemplo, definimos nossa personalidade baseados nos signos que reconhecemos no meio social e que, por uma necessidade de pertencimento, adotamos em nosso modus videndi.

Isso pode até ajudar a explicar o porquê de grande parte da sociedade consumir determinados estilos de música, de gosto bem duvidoso, com letras obscenas, rimas pobres e contribuição intelectual nula. Talvez exista, de repente, alguma identificação com a linguagem utilizada, sempre de fácil compreensão nesses “produtos culturais”; quiçá ocorra uma correlação com o que é expresso neles e o cotidiano do público que os consome. Ou então isso se justifique pelo medo do indivíduo de se sentir excluído, ou de estar fora dos padrões dos grupos a que necessite pertencer.É uma questão de difícil conclusão, mas que, sem dúvidas, merece um estudo mais aprofundado no campo da Estética.

O outro motivo é ainda mais simples: o gosto, por ser definido no convívio social e servir como um código de comunicação, também é linguagem, é signo. Ele se manifesta como um meio necessário para informar quem somos, a que grupos pertencemos, de que forma pensamos e agimos individual ou coletivamente. Em suma, ele pode ser caracterizado como o nosso porta-voz para o mundo.

Podemos pensar no critério de gosto inclusive como um instrumento pedagógico. A partir dele, é possível compreender, por exemplo, o estilo de outras épocas e lugares, dos mais conservadores aos visionários; entender como os estilos de música e de moda indumentária de outros tempos contribuíram ou foram reflexos da formação cultural dos nossos dias.

Portanto, acabemos com essa idéia egoísta e hipócrita de que gosto não se discute. Hipócrita porque, mesmo que os moralistas de plantão preguem que a democracia do gosto só pode ser respeitada quando não nos metemos nesse assunto, ele sempre será posto nas rodas de discussão, inevitavelmente; e egoísta porque, se desistíssemos de falar sobre ele, perderíamos grande oportunidade de conhecer o novo, o inédito. De enxergar novas idéias e formas de expressão e, assim, aprender com elas. E de ensinar também, claro.

Por isso, amigos, metamos o bedelho no gosto alheio, sim. E sem cerimônia!