domingo, 1 de novembro de 2009

As aventuras do The Zé Mané!!

Apresento aos leitores do Momento Livre uma pequena animação gráfica do meu grande amigo Abel Rocha. Ele é formado em Artes Visuais e sempre se interessou por esse tipo de animações em flash. Resolveu então elevar sua criatividade e talento para a vida profissional, para a felicidade de todos nós, claro!!

Confiram um dos seus ótimos trabalhos e aproveitem para dar uma boa conferida no seu mais recente blog: www.abelnet.2u.blog.br/


segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Singela homenagem rubro-negra...

A morte de um ente querido é sempre uma barra pesada de segurar. A dor da ausência é aguda e silenciosa. A sensação da perda é uma amálgama da incerteza da "ideia de morte" com a certeza angustiante da ideia de "nunca mais".



Mas o silêncio interior da perda, que perpassa por nós como um eco numa mata fechada, eternizando-se no ar até o infinito, pode ser levemente preenchido pelo som de uma bela canção, que "reviverá" um amigo que se foi toda vez que seus versos e acordes se repetirem nos ouvidos e na alma de quem toca - e de quem houve também.

As canções de Roberto Carlos à Maria Rita, simbolizando a luta eterna do seu amor à dura ausência determinada pela perda; O amor de Pai, que sempre se renova e se eterniza na bela canção de Fábio Jr... são provas de que a Arte sempre vencerá a morte e que a amizade verdadeira impor-se-á eternamente aos ditames arbitrários do destino.

Ontem eu estava vendo (e ouvindo) uns vídeos do Youtube e me deparei com uma bela homenagem de um guitarrista ao seu irmão rubro-negro, falecido em junho de 2008. Ele fez uma versão acústica do bonito hino do Flamengo e a dedicou aos bons momentos que viveu com o irmão durante os jogos do seu clube de coração.

A homenagem tão singela foi capaz de emocionar até a mim, vascaíno convicto!

Parabéns ao valoroso rubro-negro. São sentimentos assim que precisamos alimentar em nossas vidas e em nossos corações.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

O fim da "paradinha" no futebol!

J. Blatter, presidente da FIFA. (FONTE: oglobo.globo.com)


O presidente da FIFA, o suíço Joseph Blatter, em evento realizado ontem no Rio de Janeiro, informou que está nos planos da entidade máxima do futebol o fim do recurso da paradinha nas cobranças de pênalti. A notícia já está gerando polêmica no meio esportivo, sobretudo por parte daqueles que enxergam na paradinha um artifício para dar mais emoção às penalidades, que proibi-la seria o mesmo que “dogmatizar” excessivamente o futebol e que a FIFA deveria estar mais preocupada com questões que inibam jogadas truculentas, racismo e arbitragens desastrosas, por exemplo.

De fato, muitos percalços no futebol precisam ser revistos para que o espetáculo se torne mais atraente, justo e menos troglodita. Definir regras mais específicas para jogadas agressivas, que não dêem margem a diversas interpretações do árbitro; acabar com a diferenciação, a meu ver estúpida, de “mão na bola” ou “bola na mão” dentro da área; redimensionar a condição de impedimento (estar impedido por 2 cm de diferença é sacanagem!!), entre outras, são algumas das questões que precisam ser postas em pauta pelo senhor Blatter.

Mas, sobre as paradinhas serem “mais emocionantes”, eu fico me perguntando: mais emocionantes pra quem? Pro goleiro, que vê sua chance de realizar a defesa praticamente reduzida a zero com toda certeza não é!

A paradinha é uma das maiores imoralidades do futebol contemporâneo. Ela fere drasticamente o princípio da igualdade de condições em qualquer disputa limpa de qualquer modalidade esportiva. Os que a defendem argumentam que ela é justa porque oferece mais privilégios ao clube que sofreu a infração, como uma forma de compensação. Ora, eu ainda não estava a par de que havíamos regredido ao período mesopotâmico da História! Agora é Lei de Talião? Olho por olho, dente por dente??

A cobrança de pênalti em si já é uma retaliação mais do que suficiente para punir o clube infrator. Não há barreira formada nem grande distância entre o goleiro e o batedor. As chances de a bola entrar já são maiores que a de haver a defesa, bater na trave ou sair pela linha de fundo. Isso basta como compensação. Além disso, se aceitamos o recurso da paradinha, partimos do princípio de que todas as jogadas que originam pênaltis fatalmente terminariam em gol, o que não é verdade. Por isso se deve dar ao goleiro a possibilidade de defesa.

A paradinha precisa mesmo ser abolida do futebol. Não tem cabimento - pelo menos é o que eu penso - tentar compensar um erro (o da infração em si) com outro ainda pior. O ideal é que se descubram formas de se evitar (ou ao menos diminuir) os dois erros. E isso é aplicável não apenas no futebol, mas na vida. É uma questão de princípios, sobretudo.

O grande mestre do rádio esportivo, Luiz Mendes, fez ontem, no pré-jogo entre Vasco e Figueirense, pela Rádio Globo/ CBN, uma colocação com a qual eu sempre concordei: além de tornar o lance em si algo ruim de se ver, a paradinha se caracteriza como jogo sujo porque não oferece ao goleiro praticamente nenhuma chance de defender a bola. É quase uma forma de humilhar o adversário e isso é inaceitável para os princípios de uma disputa entre iguais. Em contrapartida, deve-se reavaliar a possibilidade do arqueiro não poder se movimentar na hora do pênalti, a não ser em cima da linha do gol.

Assino embaixo das palavras do mestre Luiz Mendes e espero que a decisão da FIFA seja categórica!

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Basta de hipocrisia: Lobato presidente, Emília vice!!


Desde muito cedo sempre me interessei por literatura brasileira. Mais precisamente pela fase regionalista, que vigorou no Brasil com o amadurecimento do Modernismo (depois da famosa Semana de 1922) e atingiu o seu ápice a partir de 1945, tendo à frente nomes de peso, como Erico Veríssimo, Rachel de Queirós, Graciliano Ramos, Jorge Amado, José Lins do Rego, entre tantos outros gênios da palavra.

Esses autores modificaram minha vida, meus gostos, minha maneira de pensar e ler o mundo, de me relacionar com as pessoas. A partir de cada um deles, conheci um pedaço da minha cultura, da minha identidade e, sobretudo, meu fascínio pela literatura, emaranhados na complexidade dos personagens de ficção: suas intrigas, amores, modos de vida, nuances no falar, peculiaridades no agir. Tudo isso impulsionou o meu espírito a quem chamo hoje de Caio. Por isso alimento, por esses mestres, um ufanismo mal-disfarçado, um interesse descomedido, uma obsessão saudável, incontrolável.

Mas, como se sabe, nem tudo são flores nos jardins da hipocrisia. É uma pena que as academias de literatura, que deveriam representar com louvor esses monstros sagrados, atribuindo-lhes imortalidade e oferecendo-lhes homenagens periódicas, saraus literários e menções honrosas, se prestem ao ridículo papel de valorizar aqueles que quase nada ou nada contribuíram para o amadurecimento da Literatura Brasileira.

Para se ter uma ideia, o senador Fernando Collor de Mello acaba de ser nomeado membro da Academia Alagoana de Letras pela inédita votação de 22 votos a favor, 08 brancos e nenhum contra ou nulo. O atual presidente da AAL, Bispo D. Fernando Lório, deslumbrado, afirmou que nunca havia presenciado uma votação tão expressiva em outros tempos. Mas o problema, amigo leitor, é que Collor, em toda a sua vida política, jamais publicou um livro, um conto, um romance. Sua nomeação se baseou em artigos escritos na imprensa local (da qual o seu jornal impresso, a Gazeta de Alagoas, é o maior representante).

Trocando em miúdos, a importância que Collor conferiu à literatura brasileira é a mesma importância que o Sarney dá para a opinião pública ou para a ilegalidade de nomear parentes para o Congresso: nenhuma. Aliás, o próprio Sarney, bem como Roberto Marinho e Paulo Coelho (para ficar apenas em alguns absurdos) já foram eleitos “imortais” da Academia Brasileira de Letras. É mole ou quer mais?!

Pode parecer exagero o que vou dizer, mas colocar o nome de Fernando Collor, no mesmo contexto e em pé de igualdade com Graciliano, Lêdo Ivo, Jorge de Lima e tantos outros - que levaram a literatura alagoana às principais rodas literárias do mundo -, é quase uma profanação, um tapa na cara do apreciador da boa palavra, uma afronta ao mínimo senso de estética e crítica literárias.

As academias de literatura desse país há muito tempo perderam o seu valor. Posicionam-se contra qualquer forma de modernização do idioma e mantêm um conservadorismo obsoleto e voluntário. Se elas insistem em não respeitar a nossa inteligência, o desprezo é a melhor moeda de troca que temos a oferecer. Certo estava Monteiro Lobato, que se recusou a fazer parte desse conclave de esnobes e oportunistas, que são a ABL e suas filiais.

Por isso, amigos, pelo fim da hipocrisia na literatura, votemos em Lobato para presidente. Emília vice!

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

A música brasileira está mais viva que nunca!

Caros leitores do blog do meu amigo Caio Lima, invado esse espaço (a pedido do dono... rsrsrsr) para comentar o 39º FENAC (Festival Nacional da Canção), do qual estou participando. Primeiramente gostaria de agradecer pelo espaço cedido, e pela força que o Caio sempre me dá na divulgação das minhas músicas! Valeu, Caio!!

Bom, o FENAC é um dos mais tradicionais e disputados Festivais de música do Brasil. Nascido em 1971 como Festival da Canção de Boa Esperança, atualmente o evento é realizado nas cidades de Extrema, Três Pontas, Varginha, Formiga, Alfenas e Boa Esperança (todas em Minas Gerais). Cada cidade recebe uma etapa do festival escolhendo as 3 melhores músicas para participarem da final em Boa Esperança.

Esse é o primeiro ano que participo. Só em ser selecionado já havia ficado muito feliz. Participei das etapas de Varginha e de Extrema e pude constatar que a MPB está muito viva, muito produtiva e bela como nunca. Me ver entre aqueles talentos brasileiros fora da grande mídia me deixou muito orgulhoso de mim mesmo. E ter uma das minhas músicas selecionadas para a final em Boa Esperança foi inexplicável!

Gostaria nesse espaço de destacar alguns dos grandes nomes que pude ouvir nas etapas que participei do FENAC: Grupo Voz (www.myspace.com/grupovoz), Miltinho Edilberto (www.myspace.com/miltonedilberto), Tavinho Limma, Joca Perpignan (www.myspace.com/jocaperpignan), Ito Moreno (www.myspace.com/itomoreno), Luiz Ferrar, Junior Almeida, Banda Sissibonaflá (www.sissibonafla.com.br), Isabela Morais, Cris Dalana (www.myspace.com/crisdalana), entre muitos outros artistas fantásticos. Vale a pena conferir.

Além do festival, as cidades-sedes respiram música o dia todo, com shows acontecendo nas praças e nos bares. Fica aí o convite para quem aprecia a boa música brasileira: dias 4, 5 e 6 de Setembro - a Final do FENAC em Boa Esperança. Conto com a torcida de todos!

Grande Abraço!

Novos tempos, novos olhares!!

Se ultimamente estamos sendo bombardeados com péssimas notícias na imprensa: gripe suína; ataques de pelanca do Collor e do Renan Calheiros; os atos secretos do Sarney e sua neta interesseira e a famigerada diputa Edir Macedo x Rede Globo (o sujo falando do mal lavado), eis que lhes apresento, enfim, uma boa notícia:

A partir de agora teremos novidades no Momento Livre. E novidade das boas! Meu amigo e grande músico carioca, Matheus Nicolau, nos brindará semanalmente com o seu ponto de vista crítico-criativo do universo da música no Brasil. Boa música, naturalmente.

Espero que todos o recebam de braços abertos e ouvidos apurados. Sua presença muito enriquecerá as nossas leituras.

Bem-vindo ao Momento Livre, Matheus!

terça-feira, 7 de julho de 2009

Ciberbullying: uma nova praga virtual

A velha prática da opressão física entre estudantes durante o período escolar parece caminhar por novos caminhos e se adequar perfeitamente ao advento das novas tecnologias no mundo contemporâneo. Com o avanço tecnológico e a forte proliferação de sites de relacionamento na internet, a opressão física e psicológica, comumente praticada pelos “mais fortes” sobre os considerados”mais fracos” e sem motivos aparentes (o bullying), demonstra grande capacidade de adaptação e ultrapassa os limites do mundo real para atingir os ambientes virtuais.

Um exemplo notório desse novo fenômeno, que os especialistas denominam “Ciberbullying”, acontecera recentemente no Brasil, quando os pais de cerca de 12 meninas, entre 12 e 14 anos, denunciaram abusos físicos e psicológicos que suas filhas vinham sofrendo por um grupo de moças da mesma faixa etária, supostamente organizadas numa comunidade do Orkut intitulada “Bonde do Capeta”. O objetivo das agressoras seria aplicar “um corretivo” em meninas que fossem bonitas, loiras e estudiosas. As ações se caracterizavam por emboscadas em grupo no momento em que as estudantes – que se encaixassem no perfil – saiam da escola, ou com frases ameaçadoras no quadro-negro, aconselhando que as vítimas se despedissem dos pais, “pois o dia de sua morte estaria próximo”.

A polícia já iniciou as investigações, descobriu a identidade de algumas das transgressoras e excluiu a comunidade da internet, mas as ações violentas ainda não cessaram por completo. A maior preocupação das autoridades é que essa corrente se propague ainda mais e faça novas vítimas, podendo inclusive acarretar conseqüências fatais.

Nos Estados Unidos, onde a prática do bullying é freqüente e vários desfechos trágicos já foram registrados, um novo projeto de lei para adoção de medidas mais enérgicas, em caso de comprovação de ameaças violentas pela internet, está sendo apreciado no Congresso Nacional. A senadora californiana Linda Sanchez, autora do projeto “Megan Meyer” (em homenagem ao estudante norte-americano que se suicidou em 2007, vítima do Ciberbullying), já conta com o apoio de 14 deputados. Entretanto, ainda precisa enfrentar a oposição de parte dos congressistas, que indicam pontos do projeto que possivelmente feririam o direito à liberdade de expressão dos internautas, por ser difícil diferenciar o que é opressão virtual de “discussões relevantes”, próprias da linguagem do público jovem.

O bullying é considerado por especialistas um problema sério por acarretar consequências futuras graves tanto para os agressores quanto para os agredidos. No caso dos agressores, os jovens podem desenvolver uma personalidade violenta e opressora, por acreditarem que as relações sociais devem ser mediadas pela força física; para os agredidos, os prejuízos são ainda maiores: mania de perseguição, complexo de inferioridade e dificuldades de relacionamento com o próximo estão entre os principais pontos negativos.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Ética no Jornalismo Esportivo?

Essa semana eu estava assistindo, junto com o meu cunhado, à partida entre Cruzeiro x Grêmio pelas semi-finais da C. S. Libertadores, quando ficamos assombrados com o modo como José Roberto Wright (comentarista de arbitragem da Globo) tratava verbalmente o colega de profissão que apitou a partida.

Ao comentar a postura do árbitro chileno Henrique Osses na condução do confronto, o comentarista não mediu a força dos adjetivos ao qualificá-lo, com veemência e sem nenhum pudor, de INCOMPETENTE, FRAQUÍSSIMO e DESQUALIFICADO para apitar uma jogo daquela envergadura. Essas palavras não foram direcionadas a mim, mas, como telespectador, me senti constrangido ao perceber que Wright não demonstrava nenhum respeito pelo colega de profissão. Não que eu ache que ele devesse evitar críticas ao trabalho executado pelo juiz em campo, longe disso, mas que ele não deveria perder de vista o bom senso na leitura do jogo.

José Roberto Wright não precisa provar a mais ninguém o conhecimento em arbitragem que adquiriu ao longo de uma carreira escrita com competência, o que o elevou à categoria de árbitro de Copa do Mundo (apesar de algumas partidas polêmicas no currículo). Mas ele certamente teve dificuldades no início da trajetória e não foram críticas como as feitas ao Osses que o fizeram despontar na profissão.

As últimas notícias extraídas do futebol brasileiro, como o imbróglio envolvendo clubes e técnicos; a ausência injustificada de jogadores aos treinos obrigatórios; comentários racistas dentro de campo, entre outros, levam à reflexão de se já não passou da hora de revermos os conceitos de ética nas relações pessoais e profissionais no universo do futebol e do esporte como um todo.

Penso que Ética é mais que uma questão de saber se relacionar com o próximo. É uma questão de princípios, de caráter. Quando isso fica impresso em nossa personalidade, a boa conduta nas relações com os iguais acontece naturalmente.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

A Maçã no Escuro: o renascer do homem segundo Clarice Lispector

Discorrer sobre a complexidade da natureza humana não é mesmo uma tarefa das mais fáceis. Somos indivíduos formados por um verdadeiro turbilhão de idéias, confluência de sensações e desejos, construção e desconstrução da nossa própria realidade. Abarcar essa confusão, que nos define e nos alimenta, na dureza fria e limitada das palavras, pode parecer leviano para alguns, impossível para muitos, mas um hábito simples e constante na produção literária da genial Clarice Lispector.

Em A Maçã no Escuro, romance da década de 60 e um dos melhores livros de sua autoria, Clarice traz à tona o misterioso destino de Martim, rapaz perseguido pela idéia confusa e indefinida de supostamente ter cometido um crime, o qual ele próprio se julga incapaz de compreender. Determinado a livrar-se da confusão interior na qual se vê encurralado e sem o controle de si mesmo, o homem decide fugir para um lugar o mais distante possível, apagar todos os vestígios do passado e refazer sua própria natureza humana.

O enredo, quase todo desenvolvido no cenário bucólico de uma fazenda no meio do nada - onde Martim passa a se relacionar com personagens-chave na sua tentativa de auto-reconstrução – guarda muita semelhança com a gênese da criação humana descrita pela Bíblia. A atitude de Martim, nessa comparação, se identifica com a postura do Criador, por se considerar capaz de reconstruir a si mesmo e, nessa sensação de onipotência, se perceber possuidor de todas as coisas que existem.

O romance, de linguagem densa e rebuscada, convida o leitor para uma reflexão profunda sobre as diversas “máscaras” que vestimos no dia-a-dia e os papéis que “interpretamos” nas relações cotidianas com o próximo. O desejo de Martim em se tornar outra pessoa, renegando a si mesmo, lança luz ao problema da perda de identidade do indivíduo em sociedade, que procura se adequar a padrões de comportamento pré-definidos pelo temor de ser tido como um “estranho”.

Poucos escritores conseguiram até hoje nos fazer perceber a nós mesmos numa obra literária com a habilidade e a maestria singulares de Clarice Lispector. Seus textos intrigantes, herméticos em muitas passagens, mas inexplicavelmente compreensíveis no mais íntimo de nossa essência, conseguem nos conduzir ao subconsciente, ao nascedouro dos desejos, das paixões, frustrações, alegrias, tristezas, medos.

Uma escritora no sentido mais completo da palavra, que transcendia os limites da lógica sem deixar de ser racional; que ultrapassava os limites da subjetividade sem cair no lugar-comum da filosofia barata.

sábado, 28 de março de 2009

Educação sexual: um dilema da vida moderna

Então é isso. O garoto britânico Alfie Patten, de 13 anos, não é o pai da criança. Isso é uma boa notícia? Talvez sim, uma vez que é inconcebível a idéia de que uma criança, no auge da sua própria inocência, tenha a responsabilidade de assumir uma paternidade. Mas esse caso é importante para lançarmos luz a algumas falhas que o sistema social, ao qual nos submetemos e aceitamos sem questionamentos, apresenta em sua essência.
A falta de preparo que todos nós temos para gerenciar, com mais clareza e naturalidade, a educação sexual dos nossos filhos é, infelizmente, o que acaba gerando essas situações, como a gravidez da jovem Chantelle Steadman, de 15 anos. Isso porque as crianças, assim como os adolescentes e adultos, são movidas pelo encanto, promovido por tudo aquilo que se esconde por trás de uma aura misteriosa. Encantamo-nos justamente por aquilo que nos é dado como “proibido” ou “intocável”.
Michel Foucault, filósofo francês do Séc. XX e profundo crítico da contemporaneidade, encarava o fato de os pais esconderem a verdade sobre o sexo às crianças, como forma de protegê-las, um erro grave. Para ele, a questão tem de ser encarada pelos jovens, ainda na infância, como algo natural, que faz parte da sua vida, sem mistérios ou encantamentos. Proibir as crianças de tocar nesse assunto, ainda mais pautado no discurso moralista e hipócrita que prega a idéia de que “sexo é assunto para os adultos”, é tornar-se, segundo ele, um alvo em potencial da violência e da opressão sociais.

Essa é uma questão de difícil definição, na verdade. Afinal, saber a maneira mais adequada para tratar de sexo com crianças é um dilema ao qual os pais parecem não ter encontrado ainda uma saída satisfatória. E essa não é uma deficiência exclusiva deles. As escolas não possuem ainda um arcabouço teórico suficiente e professores devidamente treinados para lidar com o caso.

O acontecimento da gravidez de Chantelle não é um fato isolado. Acontece em todos os lugares, classes sociais e grupos étnicos. A ocorrência é cada vez mais comum e a causa disso tudo é a ausência de uma política pedagógica eficaz, que prepare a criança para encarar o ato sexual como algo intrínseco na sua realidade, que fará parte de toda a sua trajetória de vida.
Em entrevista à imprensa britânica, o “falso” pai da criança aceitou fazer o exame de DNA porque antes tinha certeza da “fidelidade” de sua parceira. Esse tipo de declaração, ao invés de ser encarada apenas como inusitada, deve servir de alerta sobre a combinação perigosa entre inocência infantil e ignorância da realidade.

Educação sexual não é fetiche nem impudicícia. É sinônimo de prevenção e saúde também.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

CEGUEIRA

Apontar o dedo pro outro, julgar seus passos e comportamentos, classificar e estigmatizar atitudes e formas de pensar são práticas tão comuns que às vezes esquecemos o quanto são prejudiciais nas relações humanas. Nesse post, peço a todos os meus amigos e leitores que façam uma pequena reflexão comigo, a partir de um pequeno poema que compus especialmente com esse fim.
A todos eu peço desculpas pela demora da atualização, é que estou meio sem assunto e, como sabem, faço questão de, ao menos, tentar corresponder às suas expectativas e nivel intectual.

Enfim, leiam o poema e me digam o que acharam nos comentários. Os elementos que eu encontrar nos pontos de vista poderão ser usados na próxima publicação que, prometo, será em breve!


Cegueira

Se me julgas com os olhos que te cegam
O que vês é real ou ilusão?
Me persegues com palavras e com pedras
E o que tocas não tem sombra nem tem mão

Não tem corpo, não tem vida nem tem sorte
Não tem arte, nem razão, não tem por quê
Só tem asas nos teus desenhos pobres
Nas ferrugens do pensar, do mal-querer

Se me julgas com os olhos que te cegam
O que vês são teus delírios, nada mais
São vestígios do teu medo, que carregam
O furor dos teus instintos animais

Se tens medo de me ver com outros olhos
De saber do meu saber mais que ninguém
É porque tu só entendes teus simplórios
Do meu ter que te fascina e que não tens

Se me julgas com os olhos que te cegam
O que não tem mais sentido se refaz
O que não tem mais desejo permanece
E o que não tem mais futuro se desfaz



sábado, 3 de janeiro de 2009

DISCUTINDO GOSTOS, SEM CERIMÔNIA!

Dizem por aí que gosto nunca se discute. Que cada um tem o seu e ponto final. Que ninguém é obrigado a concordar com o estilo musical, de roupas, de leitura, de amizades, de corte de cabelo, preferências por cores ou qualquer outro traço da personalidade de outrem, mas que precisa saber respeitar a diversidade e coisa e tal.

Todo mundo já ouviu alguém falar sobre essas coisas pelo menos uma vez na vida, não é mesmo?

Mas será realmente preciso evitar a discussão acerca do gosto das pessoas apenas para respeitar essa tão propalada diversidade? Será mesmo que nunca valeria a pena colocar em discussão um tema tão interessante, mas constantemente bombardeado por essa máxima vazia e, de certa forma, pedante, que prega a idéia de que “gosto é que nem consciência, cada um tem a sua”?

Eu não concordo. Penso, ao contrário, que valeria muito a pena sim meter o bedelho no gosto dos outros. E por dois motivos básicos...

Primeiro porque adotar essa máxima implica acreditar que toda produção da indústria cultural teria alguma qualidade pelo simples fato de sempre haver alguém disposto a consumi-la. Isso até faz sentido, já que os mercados culturais, de fato, só podem aquecer a produtividade quando conseguem manter um público-consumidor ativo e – em alguns casos, por incrível que pareça - satisfeito. O que não dá pra aceitar é que esse consumo seja feito de maneira gratuita, sem imposições.

É natural que os nossos gostos sejam influenciados pelo estilo de vida de outras pessoas, que podem fazer parte (ou não) do nosso convívio, ou inclinados para aquilo que está em voga “nas paradas de sucesso”. Quando queremos ouvir esse tipo de música e não aquele; ou quando preferimos usar esse estilo de roupas e ignorar aquele outro, por exemplo, definimos nossa personalidade baseados nos signos que reconhecemos no meio social e que, por uma necessidade de pertencimento, adotamos em nosso modus videndi.

Isso pode até ajudar a explicar o porquê de grande parte da sociedade consumir determinados estilos de música, de gosto bem duvidoso, com letras obscenas, rimas pobres e contribuição intelectual nula. Talvez exista, de repente, alguma identificação com a linguagem utilizada, sempre de fácil compreensão nesses “produtos culturais”; quiçá ocorra uma correlação com o que é expresso neles e o cotidiano do público que os consome. Ou então isso se justifique pelo medo do indivíduo de se sentir excluído, ou de estar fora dos padrões dos grupos a que necessite pertencer.É uma questão de difícil conclusão, mas que, sem dúvidas, merece um estudo mais aprofundado no campo da Estética.

O outro motivo é ainda mais simples: o gosto, por ser definido no convívio social e servir como um código de comunicação, também é linguagem, é signo. Ele se manifesta como um meio necessário para informar quem somos, a que grupos pertencemos, de que forma pensamos e agimos individual ou coletivamente. Em suma, ele pode ser caracterizado como o nosso porta-voz para o mundo.

Podemos pensar no critério de gosto inclusive como um instrumento pedagógico. A partir dele, é possível compreender, por exemplo, o estilo de outras épocas e lugares, dos mais conservadores aos visionários; entender como os estilos de música e de moda indumentária de outros tempos contribuíram ou foram reflexos da formação cultural dos nossos dias.

Portanto, acabemos com essa idéia egoísta e hipócrita de que gosto não se discute. Hipócrita porque, mesmo que os moralistas de plantão preguem que a democracia do gosto só pode ser respeitada quando não nos metemos nesse assunto, ele sempre será posto nas rodas de discussão, inevitavelmente; e egoísta porque, se desistíssemos de falar sobre ele, perderíamos grande oportunidade de conhecer o novo, o inédito. De enxergar novas idéias e formas de expressão e, assim, aprender com elas. E de ensinar também, claro.

Por isso, amigos, metamos o bedelho no gosto alheio, sim. E sem cerimônia!