sábado, 28 de março de 2009

Educação sexual: um dilema da vida moderna

Então é isso. O garoto britânico Alfie Patten, de 13 anos, não é o pai da criança. Isso é uma boa notícia? Talvez sim, uma vez que é inconcebível a idéia de que uma criança, no auge da sua própria inocência, tenha a responsabilidade de assumir uma paternidade. Mas esse caso é importante para lançarmos luz a algumas falhas que o sistema social, ao qual nos submetemos e aceitamos sem questionamentos, apresenta em sua essência.
A falta de preparo que todos nós temos para gerenciar, com mais clareza e naturalidade, a educação sexual dos nossos filhos é, infelizmente, o que acaba gerando essas situações, como a gravidez da jovem Chantelle Steadman, de 15 anos. Isso porque as crianças, assim como os adolescentes e adultos, são movidas pelo encanto, promovido por tudo aquilo que se esconde por trás de uma aura misteriosa. Encantamo-nos justamente por aquilo que nos é dado como “proibido” ou “intocável”.
Michel Foucault, filósofo francês do Séc. XX e profundo crítico da contemporaneidade, encarava o fato de os pais esconderem a verdade sobre o sexo às crianças, como forma de protegê-las, um erro grave. Para ele, a questão tem de ser encarada pelos jovens, ainda na infância, como algo natural, que faz parte da sua vida, sem mistérios ou encantamentos. Proibir as crianças de tocar nesse assunto, ainda mais pautado no discurso moralista e hipócrita que prega a idéia de que “sexo é assunto para os adultos”, é tornar-se, segundo ele, um alvo em potencial da violência e da opressão sociais.

Essa é uma questão de difícil definição, na verdade. Afinal, saber a maneira mais adequada para tratar de sexo com crianças é um dilema ao qual os pais parecem não ter encontrado ainda uma saída satisfatória. E essa não é uma deficiência exclusiva deles. As escolas não possuem ainda um arcabouço teórico suficiente e professores devidamente treinados para lidar com o caso.

O acontecimento da gravidez de Chantelle não é um fato isolado. Acontece em todos os lugares, classes sociais e grupos étnicos. A ocorrência é cada vez mais comum e a causa disso tudo é a ausência de uma política pedagógica eficaz, que prepare a criança para encarar o ato sexual como algo intrínseco na sua realidade, que fará parte de toda a sua trajetória de vida.
Em entrevista à imprensa britânica, o “falso” pai da criança aceitou fazer o exame de DNA porque antes tinha certeza da “fidelidade” de sua parceira. Esse tipo de declaração, ao invés de ser encarada apenas como inusitada, deve servir de alerta sobre a combinação perigosa entre inocência infantil e ignorância da realidade.

Educação sexual não é fetiche nem impudicícia. É sinônimo de prevenção e saúde também.