quarta-feira, 30 de setembro de 2009

O fim da "paradinha" no futebol!

J. Blatter, presidente da FIFA. (FONTE: oglobo.globo.com)


O presidente da FIFA, o suíço Joseph Blatter, em evento realizado ontem no Rio de Janeiro, informou que está nos planos da entidade máxima do futebol o fim do recurso da paradinha nas cobranças de pênalti. A notícia já está gerando polêmica no meio esportivo, sobretudo por parte daqueles que enxergam na paradinha um artifício para dar mais emoção às penalidades, que proibi-la seria o mesmo que “dogmatizar” excessivamente o futebol e que a FIFA deveria estar mais preocupada com questões que inibam jogadas truculentas, racismo e arbitragens desastrosas, por exemplo.

De fato, muitos percalços no futebol precisam ser revistos para que o espetáculo se torne mais atraente, justo e menos troglodita. Definir regras mais específicas para jogadas agressivas, que não dêem margem a diversas interpretações do árbitro; acabar com a diferenciação, a meu ver estúpida, de “mão na bola” ou “bola na mão” dentro da área; redimensionar a condição de impedimento (estar impedido por 2 cm de diferença é sacanagem!!), entre outras, são algumas das questões que precisam ser postas em pauta pelo senhor Blatter.

Mas, sobre as paradinhas serem “mais emocionantes”, eu fico me perguntando: mais emocionantes pra quem? Pro goleiro, que vê sua chance de realizar a defesa praticamente reduzida a zero com toda certeza não é!

A paradinha é uma das maiores imoralidades do futebol contemporâneo. Ela fere drasticamente o princípio da igualdade de condições em qualquer disputa limpa de qualquer modalidade esportiva. Os que a defendem argumentam que ela é justa porque oferece mais privilégios ao clube que sofreu a infração, como uma forma de compensação. Ora, eu ainda não estava a par de que havíamos regredido ao período mesopotâmico da História! Agora é Lei de Talião? Olho por olho, dente por dente??

A cobrança de pênalti em si já é uma retaliação mais do que suficiente para punir o clube infrator. Não há barreira formada nem grande distância entre o goleiro e o batedor. As chances de a bola entrar já são maiores que a de haver a defesa, bater na trave ou sair pela linha de fundo. Isso basta como compensação. Além disso, se aceitamos o recurso da paradinha, partimos do princípio de que todas as jogadas que originam pênaltis fatalmente terminariam em gol, o que não é verdade. Por isso se deve dar ao goleiro a possibilidade de defesa.

A paradinha precisa mesmo ser abolida do futebol. Não tem cabimento - pelo menos é o que eu penso - tentar compensar um erro (o da infração em si) com outro ainda pior. O ideal é que se descubram formas de se evitar (ou ao menos diminuir) os dois erros. E isso é aplicável não apenas no futebol, mas na vida. É uma questão de princípios, sobretudo.

O grande mestre do rádio esportivo, Luiz Mendes, fez ontem, no pré-jogo entre Vasco e Figueirense, pela Rádio Globo/ CBN, uma colocação com a qual eu sempre concordei: além de tornar o lance em si algo ruim de se ver, a paradinha se caracteriza como jogo sujo porque não oferece ao goleiro praticamente nenhuma chance de defender a bola. É quase uma forma de humilhar o adversário e isso é inaceitável para os princípios de uma disputa entre iguais. Em contrapartida, deve-se reavaliar a possibilidade do arqueiro não poder se movimentar na hora do pênalti, a não ser em cima da linha do gol.

Assino embaixo das palavras do mestre Luiz Mendes e espero que a decisão da FIFA seja categórica!

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Basta de hipocrisia: Lobato presidente, Emília vice!!


Desde muito cedo sempre me interessei por literatura brasileira. Mais precisamente pela fase regionalista, que vigorou no Brasil com o amadurecimento do Modernismo (depois da famosa Semana de 1922) e atingiu o seu ápice a partir de 1945, tendo à frente nomes de peso, como Erico Veríssimo, Rachel de Queirós, Graciliano Ramos, Jorge Amado, José Lins do Rego, entre tantos outros gênios da palavra.

Esses autores modificaram minha vida, meus gostos, minha maneira de pensar e ler o mundo, de me relacionar com as pessoas. A partir de cada um deles, conheci um pedaço da minha cultura, da minha identidade e, sobretudo, meu fascínio pela literatura, emaranhados na complexidade dos personagens de ficção: suas intrigas, amores, modos de vida, nuances no falar, peculiaridades no agir. Tudo isso impulsionou o meu espírito a quem chamo hoje de Caio. Por isso alimento, por esses mestres, um ufanismo mal-disfarçado, um interesse descomedido, uma obsessão saudável, incontrolável.

Mas, como se sabe, nem tudo são flores nos jardins da hipocrisia. É uma pena que as academias de literatura, que deveriam representar com louvor esses monstros sagrados, atribuindo-lhes imortalidade e oferecendo-lhes homenagens periódicas, saraus literários e menções honrosas, se prestem ao ridículo papel de valorizar aqueles que quase nada ou nada contribuíram para o amadurecimento da Literatura Brasileira.

Para se ter uma ideia, o senador Fernando Collor de Mello acaba de ser nomeado membro da Academia Alagoana de Letras pela inédita votação de 22 votos a favor, 08 brancos e nenhum contra ou nulo. O atual presidente da AAL, Bispo D. Fernando Lório, deslumbrado, afirmou que nunca havia presenciado uma votação tão expressiva em outros tempos. Mas o problema, amigo leitor, é que Collor, em toda a sua vida política, jamais publicou um livro, um conto, um romance. Sua nomeação se baseou em artigos escritos na imprensa local (da qual o seu jornal impresso, a Gazeta de Alagoas, é o maior representante).

Trocando em miúdos, a importância que Collor conferiu à literatura brasileira é a mesma importância que o Sarney dá para a opinião pública ou para a ilegalidade de nomear parentes para o Congresso: nenhuma. Aliás, o próprio Sarney, bem como Roberto Marinho e Paulo Coelho (para ficar apenas em alguns absurdos) já foram eleitos “imortais” da Academia Brasileira de Letras. É mole ou quer mais?!

Pode parecer exagero o que vou dizer, mas colocar o nome de Fernando Collor, no mesmo contexto e em pé de igualdade com Graciliano, Lêdo Ivo, Jorge de Lima e tantos outros - que levaram a literatura alagoana às principais rodas literárias do mundo -, é quase uma profanação, um tapa na cara do apreciador da boa palavra, uma afronta ao mínimo senso de estética e crítica literárias.

As academias de literatura desse país há muito tempo perderam o seu valor. Posicionam-se contra qualquer forma de modernização do idioma e mantêm um conservadorismo obsoleto e voluntário. Se elas insistem em não respeitar a nossa inteligência, o desprezo é a melhor moeda de troca que temos a oferecer. Certo estava Monteiro Lobato, que se recusou a fazer parte desse conclave de esnobes e oportunistas, que são a ABL e suas filiais.

Por isso, amigos, pelo fim da hipocrisia na literatura, votemos em Lobato para presidente. Emília vice!