domingo, 19 de outubro de 2008

Rio Largo, curiosa cidade!

Rio Largo é uma cidade bem curiosa. Andar por ela nos dá a mera sensação de que o tempo está parado, de que as histórias não mudaram, que o povo não evoluiu, que o Mundaú não regressou ao mar, que as pinturas da cidade antiga são o retrato do hoje imutável e que tudo está como sempre foi, pra sempre...
E isso nos dá um estranho prazer de viver aqui. A imobilidade dos casarões antigos; da imponente fachada do Judith Paiva; dos muros amarelados e cobertos de lodo do antigo fórum municipal; da ruína secular da antiga fábrica de tecelagem; da velha senzala, no centro da cidade, trancafiada na sua mudez irônica; das largas ruas com grandes pedras de asfalto, convidando a imaginação a um delicioso passeio de bonde – embora por aqui nunca tenha passado um. Ah, mas tem o doce apito do trem!
Tudo parece dizer que somos hoje o que seremos depois de amanhã, e que o “futuro” é apenas uma palavra bonita, criada e praticada muito além dos muros da cidade. Daí você pode perguntar, caro leitor: como viver nesse suposto atraso, nessa ausência quase absoluta de progresso, pode causar algum prazer em alguém? Então, meu amigo, eu lhe respondo, com toda a convicção e com a propriedade que a experiência de causa me proporciona: não sei. É também um mistério pra mim.
Quiçá porque tudo seja apenas um desejo inconsciente da minha alma, ou um reflexo dos romances antigos no meu olhar sobre essas ruas. Talvez o progresso tenha chegado, sim. Há sinais por todos os lados tentando abris os meus olhos. O comércio promissor, as indústrias, o aeroporto internacional, a internet, os cursos de idioma, os discursos políticos exaltando a entrada do município no século XXI...
Isso pode parecer saudosismo. Mas gosto de imaginar que estou viajando no tempo, que faço parte de cada minuto da história desse lugar, mesmo sabendo que a realidade às vezes se impõe sobre os meus olhos. É mesmo curiosa essa cidade!

2 comentários:

Anônimo disse...

Adorei seu ponto de vista sobre o lugar onde vc mora...realmente é muito lindo, ja tive o prazer de conheçer e amei.

Paulo Victor Oliveira disse...

Embora esse texto tenha sido o primeiro a ser postado, só agora o li. E de cara ele me chamou a atenção pela melancólica poesia. E pela ausência do sua aguçada crítica social... Que ilusão! Quando menos espero Castro Alves se materailiza. Mas não tem problema, adoro Castro Alves.